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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Clínica de Transtornos Mentais

     A mente das pessoas... um labirinto indecifrável.
     Fomos visitar uma clínica de transtornos mentais no domingo. Encontramos pessoas com as mais diversas patologias psíquicas: Bipolares, Depressivos, Dependentes químicos, Obsessivos compulsivos...
     Éramos um grupo grande dessa vez (10 voluntários e 10 cães), a visita seria experimental, apenas para conhecermos mutuamente o trabalho de cada um.
     Fomos recebidos com alegria e curiosidade (como sempre a presença dos cães quebraram qualquer muro de comunicação entre os internos e os voluntários) muitos nos fazendo muitas perguntas, outros despejando conhecimento sobre cães... Um grupo bem heterogêneo....
     Batata, como de costume, estava livre (sem guia) era uma visita experimental e como ela fica um pouco agitada quando fica presa decidi livrá-la desse transtorno (mas é um defeito que preciso tirar, culpa da falta de passeios e da sua mania de ficar grudada em mim).
     Livre para "xeretar", Batata escolhe os seus pacientes (ou melhor, vai com quem chama o seu nome) e assim foi... ficou uns cinco minutos com um jovem quieto de boa aparência que, aparentemente, sentiu muita paz ao ficar afagando a cachorrinha, pois ficou sentado lá sem tirar os olhos dela. Depois foi com um homem de uns 30 anos de idade, olhos saltados e azuis que não escondiam a sua necessidade de ajuda, a fala, com pausas constantes, denotavam um raciocínio lento prejudicado por drogas ou sofrimento interno constante. De qualquer forma, o olhar fixo no rosto da Batata parecia dar um certo alento no espírito dessas duas pessoas, dando um escape momentâneo da realidade tão dura...
     Depois o funcionário da clínica me chamou para interagir com algumas mulheres sentadas num banco próximo, estavam inibidas com nossa presença.
     A primeira com uns 25 anos não conseguia olhar nos olhos, ficava com a cabeça baixa enquanto falava, percebi que também tinha dificuldade em caminhar, pois logo recebeu visita dos parentes e se despediu escorada com os seus. A outra, uma mulher de uns 50 anos, contou que tinha medo de cães, pois seu filho criava Pitt Bulls e uma vez foi atacada por eles, mas aceitou acariciar a Batata e percebeu que a maneira de criar é determinante na personalidade do cão, ficamos uma meia hora conversando, tempo suficiente para uma pequena biografia de sua vida.
     A última foi a Batata quem escolheu, mulher de 20 e poucos anos, dificuldade imensa para se comunicar, apenas balbuciava frases incompreensíveis. Também não nos encarava, ficando com o olhar fixo no chão enquanto tentava falar, sendo que ao tentar falar sua saliva escorria pela boca. Batata não se importava com isso e continuava a ganhar a sua carícia meio desengonçada pela falta de coordenação da moça, ao mesmo tempo que a baba caia em sua cabeça. Um sentimento que me parecia natural seria asco, mas a ternura era tanta que a cena ficou bonita e deixei que ela seguisse... nada que um banho não resolva...
     Um último pensamento passou pela minha cabeça naquele momento: Que tipo de sociedade estamos vivendo que produz tamanho sofrimento? Onde pessoas precisam se internar por não conseguir competir ou interagir com as outras?
      Algumas eram doentes na forma literal da palavra, mas outros... eram pessoas comuns inteligentes e boas... o que será que pode ter acontecido para que o fio da sanidade rompesse? Que conflito interno ou ameaça externa pode ser tão grande? Será que estamos vivendo em guerra, em plena batalha?
      Nisso, olho para a Batata... de novo com o rapaz que atendeu em primeiro lugar, e vejo satisfação no rosto dos dois. O mundo poderia ser mais simples...